quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Cigarro aceso, bolsa, moça e o pouco de dignidade que restava dela se espremiam debaixo de um guarda chuva quebrado.
Não entendo por que ela não saiu logo na chuva já que estava tão molhada. A observei por minutos a fio, propositalmente andando num passo um pouco mais lento, apenas para ter o prazer de tê-la na minha frente. Andava rápido a pequenina. Passos miúdos nas poças que pareciam rios diante de suas pernas curtas. Parou debaixo de um toldo. Diminuí o passo. Ela tragou o cigarro com tanta força que achei que tossiria.
Não tossiu. Olhou para cima e soltou a fumaça, sorrindo, olhando até onde a nuvem cinza iria. Riu e fez da minha volta do trabalho o momento mais mágico do dia, mas algo ali naquele rosto, que vi apenas de relance, me disse que ela estava tão destruída quanto a sombrinha que debilmente tentava equilibrar diante das lufadas molhadas.
Quando ela voltou a andar, não me esforcei para acompanhá-la. Já havia cumprido sua missão a tal moça do guarda chuva em ruínas.

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